quinta-feira, 27 de julho de 2017

Dor de amar

Silenciados por desgraça,
por negrume de uma vida menos esparsa,
mais desertos de ser, do que de sentir,
vivemos das ilusões que nos sonhámos,
que vislumbrámos em reencontros fugazes,
de lilases e  lírios confirmados,
saudosos das vivazes alegrias pressentidas,

Foram pinceladas de futuro,
num mar de memórias desfiadas,
contadas aos quatro cantos,
como se fossem mais prantos,
que alegrias vividas...

Quisemos assim viver ?
Talvez!
Mas, este padecer sem fim
não o imaginámos,
nem o porfiámos
nas nossas indeléveis marcas partilhadas,
num desejo premente de eternidade!...

Agora, resta a dor da ausência presente
numa perpétua amofinação
que a imaginação desconhecia.
Dói saber que foi, sem ser,
que acabou, sem começar,
que se silenciou, sem falar...
Eis a minha dor de amar!


domingo, 31 de maio de 2015



Era um brilho especial no olhar,
Aquele com que nos olhávamos...

Alguns já partiram!
E que saudades Deus meu...

Outros ainda deambulam
Tal amostra que se quer...

Aquele brilhozinho ainda vem,
Sempre que as lembranças 
Assomam...

Saudade e nostalgia... 

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Os Teus Olhos

Direi verde

do verde dos teus olhos

de um rugoso mais verde

e mais sedento


Daquele não só íntimo

ou só verde

daquele mais macio mais ave

ou vento


Direi vácuo

volume

direi vidro


Direi dos olhos verdes

os teus olhos

e do verde dos teus olhos direi vício


Voragem mais veloz

mais verde

ou vinco

voragem mais crispada

ou precipício


Maria Teresa Horta, in 'Candelabro'

quinta-feira, 20 de junho de 2013

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

domingo, 20 de dezembro de 2009

Onde mora a memória obscura

"Onde mora a memória obscura,onde
esse cavalo persiste como um relâmpago de pedra,
onde o corpo se nega,onde a noite ensurdece,
caminho sobre pedras na minha casa pobre.
Não conheço esse lago,não fui a esse país.
Mas aqui é um termo ou princípio novo.
Com a baba do cavalo,com os seus nervos mais finos
reconstruí o corpo,silenciei os membros.
Não se estancou a sede,no mesmo caos de agora,
mas a língua rebenta,as vértebras estalam
por uma nova língua,por um cavalo que una
a terra à tua boca,e a tua boca à água".


António Ramos Rosa de Ciclo do Cavalo(1975)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Não se Reconquista o Amor com Argumentos

"(...) Para fundar o amor por mim, faço nascer em ti alguém que é para mim. Não te confessarei o meu sofrimento, porque ele te faria desgostar de mim. Não te farei censuras: elas irritar-te-iam justamente. Não te direi as razões que tu tens para amar-me, porque não as tens. A razão de amar é o amor. Também não me mostrarei mais, tal como tu me desejavas. Porque tu já não desejas esse. Se não, amar-me-ias ainda. Mas educar-te-ei para mim. E, se sou forte, mostrar-te-ei uma paisagem que fará de ti meu amigo."

Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"